Razão e Sensibilidade: Jane Austen
Imediatamente após terminar Persuasão eu iniciei a leitura de Razão e Sensibilidade. Essa foi a primeira obra de Austen a ser publicada, foi no ano de 1811 e sob o pseudônimo de "By a Lady" ou "Por uma Dama". É triste saber que para ter uma maior aceitação social das suas obras, ela precisava omitir sua autoria, não era tão aceitável que uma mulher fosse escritora, mas eu já prometi a mim mesma um post exclusivo para tratar sobre as questões de gênero relacionadas a vida e obra da Srta. Austen.
Já adianto, amei o livro.
Editora Principis e seus livros de R$ 10,00, eu já disse que te amo ?
Essa edição é de capa simples e também não possuí ilustrações, algo que me agradou bastante é o fato dessas edições terem as páginas amareladas, com uma fonte e espaçamento de bom tamanho o que deixa a leitura bastante confortável. A tradução também foi feita por Marcelo Barbão.
Razão e Sensibilidade, ou do inglês Sense and Sensibility, conta a história de duas irmãs de personalidades bem diferentes Elinor a irmã mais velha que representa a razão e Marianne, a irmã do meio que representa a sensibilidade, na verdade sensibilidade foi muita bondade da Srta. Austen, pois um título justo seria "Razão e a outra irmã que só faz merda", mas eu acho que isso não seria muito bem aceito. O núcleo familiar é composto pelas duas irmãs já apresentadas, a irmã caçula Margaret e a mãe a Senhora Dashwood.
Nomes e pronomes de tratamento e como eles são complicados, a Elinor por ser a filha mais velha é Senhorita Dashwood, sua mãe é Senhora Dashwood, o irmão mais velho filho do primeiro casamento é o Senhor John Dashwood, a esposa dele por sua vez é a Senhora John Dashwood, e chega um ponto que você se acostuma, mas em alguns momentos que fica realmente complicado compreender.
A trama começa com o falecimento do Senhor Dashwood, pai das nossas protagonistas, naquela época as filhas não tinham direito heranças de família. Olha ai a crítica social na divisão de bens entre homens e mulheres. Dessa forma Elinor e sua família precisam encontrar um novo lugar para morar. Somos apresentados ao herdeiro, o Senhor John Dashwood e sua esposa, que é mulherzinha nojenta, e também surge o interesse romântico de Elinor, o Sr. Edward Ferrars. Ele tem uma personalidade interessante, porém deixa a gente com a pulga atrás da orelha por causa do comportamento dele em relação a moça.
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Elinor e Robert sentados embaixo da uma árvore. |
Uma curiosidade, na época só era permitido que um homem e uma mulher trocassem cartas se eles fossem noivos, então os dois não podiam se corresponder após a mudança. Outro fato curioso que me surpreendeu nos livros da Srta. Austen é que todas as protagonistas tem a liberdade de escolher com que vão se casar. Eu estava tão habituada aquela ideia de casamento arranjados, por conveniência e forçados que isso me surpreendeu bastante, esse tipo de casamento está presente e é retratado em várias situação, mas também fica evidente que as personagens da autora tem o poder de decisão sobre os seus próprios casamentos.
As moças conseguem uma casa com um aluguel dentro das possibilidades orçamentárias e se mudam, no processo de escolha da casa temos mais uma prova do comportamento racional de Elinor que aparece como uma boa gestora dos recursos da família. Enquanto elas buscam se acostumar com a nova realidade, somos apresentados a novos personagens, nesse meio surge Willoughby (qual a necessidade de um nome tão complicado?). Esse personagem é fantástico, principalmente por ele ser um personagem nada fictício, com a falta de decência e de honestidade dele, ele é um mal caráter, um verdadeiro lobo em pele de cordeiro, gente ele é a própria definição de Macho escroto e tóxico. Mas um personagem extremamente necessário para mostrar como podemos nos enganar em relação ao caráter de uma pessoa.
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"O salvador de Marianne, como Margaret, com mais elegância do que precisão descreveu Willoughby." (AUSTEN, 1811) |
"Bonito porém imprestável" (FROTA, G. 2019)
Eu gostaria muito de dizer que me identifiquei com a personalidade Elinor, por que ela é tão madura e sensata, tão dona das próprias emoções, mesmo sendo tão jovem, porém eu me identifiquei com a imprudente, romântica, ansiosa e nada sensata Marianne, em resumo, ela é a emocionada da história, chega a ultrapassar os limites da ingenuidade e inocência, todas ações dela são motivadas pelo sentimento ela chega a ser irracional, se eu me identifiquei? Sim, ou com certeza? Mas é gratificante ao longo do livro perceber o amadurecimento dessa personagem, e irritante ver como ela é sortuda. Ela é a prova de que, quem não aprende no amor aprende na dor,
"Não é o tempo nem a oportunidade que determinam a intimidade, é só a disposição. Sete anos seriam insuficientes para algumas pessoas se conhecerem, e sete dias são mais que suficientes para outras."
Essa é uma das passagens mais famosas do livro, só que eu fico pensando que as pessoas que divulgam essa passagem não leram o livro, ou então eu tive uma compreensão diferente, por que essa é uma das falas da emocionada Marianne sobre o seu amado, e gente essa mana quebra a cara de uma maneira tão feia, que sinceramente só prova como nós podemos julgar errado o caráter de uma pessoa e ser enganados por ela.
Marianne recebe a carta de Willoughby e mais uma vez Elinnor tem que segurar a barra.
Gente a Elinor é fantástica, eu não canso de elogiar e admirar a personalidade dela e a forma como ela consegue lidar com as próprias emoções e sentimentos. Ela é aquele tipo de pessoa que sofre em silêncio e que literalmente suporta tudo sozinha pra não preocupar nem causar dor as pessoas ao redor. Nos momentos em que ela se rende as suas emoções e ao sofrimento ao qual ela é imposta, ainda assim ela consegue se manter sensata e racional, ela é incrível. Marianne ao final admite os erros na própria conduta, reconhece as virtudes da irmã e deseja ter o comportamento mais parecido com o dela, assim como eu, e eu juro que estou trabalhando nisso.
Outro personagem incrível é o Coronel Brandon, e aqui temos que ressaltar a profundidade da personalidade dos personagens da Srta. Austen. Esse homem! Alguém deveria dar um prêmio a esse homem por que ele foi um verdadeiro herói na história, que caráter senhoras e senhores, ele quietinho no canto dele conseguiu o que queria, sem machucar ou magoar ninguém, muito pelo contrário apenas sendo generoso e paciente. Ele é muito negligenciado, enquanto todo mundo suspira pelo Mrs. Darcy(Orgulho e Preconceito) eu considero o Coronel Brandon muito mais interessante.
Novamente a conclusão do livro é surpreendente, assim como em Persuasão a felicidade da nossa heroína se deve a um lance de sorte e apenas um desdobramento da ação de personagens secundários, deixa a gente pensando que quase, quase deu tudo errado.
Adaptações para as telas
Filme: Razão e Sensibilidade -1996
Gente esse filme! Esse filme é uma obra de arte, tem um elenco fantástico, não pra menos ele foi indicado a 7 Oscar's, incluindo Melhor filme, Melhor atriz (Emma Thompson), Melhor atriz Coadjuvante (Kate Winslet), Melhor Trilha Sonora, Melhor Figurino, Melhor Fotografia e rendeu para Emma Thompson que além atuar foi responsavél pelo roteiro o Oscar de Melhor Roteiro Adaptado. Que mulher senhoras e senhores, que mulher. Isso sem contar as indicações e premiações no BAFTA, Globo de Ouro, Festival de Berlin e outros... minha gente, o filme é premiadíssimo, a lista completa tá aqui. Sériozão, o filme é fantástico. O discurso da Emma Thompson no Globo de Ouro também foi incrível, ela fingiu ser Jane Austen.
O Coronel Brandon era um personagem que já tinha ganhado o meu coração, porém ver ele interpretado pelo Allan Rickman, foi a gota d'água. Gente como ele estava lindo nesse filme.
Série BBC- Razão e Sensibilidade -2008
A série para televisão em 3 episódios, produzida pela BBC em 2008, a crítica na época considerou a série "abertamente sexual" a Jane Austen Societe acusou o o roteirista Andrew Davies de ser "muito atrevido". Eu achei simplesmente um trabalho fantástico, o livro deixa algumas passagens para a nossa imaginação, elas são citadas mas não sabemos o que aconteceu, como a ida de Marianne e Willoughby até a casa dele desacompanhados ooooh safadinhos na série eles conseguem desenvolver essa passagem muito bem e nos ajuda a compreender o personagem Willoughby.
A família Dashwood
Por ser uma série e contar com uma maior duração, o enredo pode ser mais trabalhado e é mais fiel ao livro, contado com mais calma, temos a presença de todos os personagens. Gente a série também é muito boa, não consigo dizer se eu prefiro a série ou o filme, acho que pelas diferenças entre as produções cada, uma se torna muito boa dentro daquilo que elas se propõe.
"Você não vai me cumprimentar Willoughby?"
Essa cena é um oferecimento de vergonha alheia!
O momento em que Marianne percebe que tem alguma coisa errada com o seu "salvador"
"Se eu fosse um irmão, em vez de irmã, lutaria com Willoughby e o mataria com minha espada."
As duas adaptações deram um destaque que a mais nova das Dashwood não tem no livro, além dessa passagem Margaret em outros momentos também contesta a desigualdade de gênero, mas eu não consigo me lembrar em qual das duas produções, ela comenta que a vida dos homens é muito mais interessante por que eles podem transitar livremente enquanto, as mulheres só podem ficar sentadas esperando que alguma coisa aconteça a elas.
"Eu acho que todos devemos procurar uma maneira de ser feliz"
Tirando o fato de que esse personagem não fez nada, absolutamente nada, além de aceitar as coisas que aconteciam com ele de maneira passiva e só se deu bem no final por que nada mais podia dar errado pra ele já que ele estava ferrado. Essa é uma boa mensagem.
Bom gente esse post ficou gigante, mas eu simplesmente não me controlo quando eu estou falando sobre algo que eu gosto. Minha amiga Ingrid e meu amigo Gabriel que o digam.
Beijos e se cuidem
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